Diário Underground #4

Diário Underground #4

9 de maio de 2018 453 Por Yasmin Ramyrez

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Banda Vênuz levantando o público. Foto da deusa Daniela Barros.

Sábado dia 5 de maio de 2018, rolou a 7º Festival de Música e Cultura de Rua de Bangu (bairro da zona oeste do Rio de Janeiro), na Praça Guilherme da Silveira, em frente à estação de trem homônima (desceu do trem você já cai na praça). Evento gratuito e de atrações variadas: música de vários estilos (Reggae, Rap, Rock n Roll…), fotografia, microfone aberto para a poesia, brechó (com preço de brechó!), expositores de comidas e bebidas artesanais. Sem contar o movimento natural da praça com aquele monte de pula-pula, trenzinho, a molecada correndo pra lá e pra cá, andando de patins, os tiozão tomando breja no depósito ouvindo uns brega, aquele churrasquin pingando pressão alta, entre outras manifestações culturais que são a cara do suburbano.

Cheguei lá pouco depois de 18h especialmente feliz, pois iria assistir ao meu primeiro show da banda Vênuz, ver tocar o novo single da Pedras Pilotáveis e rever depois de tantos anos os caras e o som da Bala n’ agulha. Bandas independentes pelas quais tenho admiração e respeito, por serem símbolos de afirmação feminina, inovação e resistência cultural na cena carioca respectivamente. Mas não era por isso, pelo brechó, as cumida gurdurosa e cerveja gelada que eu tava animada. Contarei.

Em 2001, recebi uma filipeta de um evento em Bangu, chamado RATO NO RIO e resolvi conhecer. Me lembro que na primeira vez cheguei muito cedo, o local ainda nem tinha aberto, um sol da porra na cabeça, os caras carregando equipo… me zoaram porque eu disse que estava escrito na filipeta, sei lá, se era tipo 14h eu cheguei faltando 10 minutos pras 14h “pra aproveitar bastante”. Eu tinha acabado de fazer 22 anos, se hoje ainda sou boboca, imagine naquela época? Das pessoas que conheci no dia lembro do Marcelo, o Saci da banda Cara de Porco (ele foi um dos que riu da minha cara, safado). As pessoas “normais” devem ter começado chegar pelas 16h. Gostei muito da galera e passei a ir direto e era muita doideira. Eu fico lembrando dos shows da época e não consigo deixar de achar a cena hoje extremamente careta. Quando que, hoje, tu vai num show underground e vê uns caras vestidos de ninja lutando com espada de isopor? Pois é, lá tinha. Muito non sense divertidíssimo.

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Recorte de jornal cedido por Wagner Ignácio baterista da Making Noise e da Setor Bronx (poderia ser da Ramyrez 77 também, mas ele é besta. Hahaha).

* Antes disso (acho que desde 1999) e até 2002 eu desbravei o underground da Z.O. e conheci muita gente do Rock, do Hip Hop, da pichação, do Reggae;  points históricos, praças de skate, festas e shows doidos; dormi em mesa de sinuca, quase fui eletrocutada, rolei um barranco (sempre tô rolando um barranco com alguém em alguma história), fui em reunião de pichador e me senti uma repórter disfarçada, tomei carreira de funkeiro, bebi uns troço esquisito, namorei dois caras, fui expulsa de alguns lugares, não consegui entrar em outros, fui “adotada” por mães de amigos, mangueei muito cigarro, passei por baixo de muita roleta, perdi entrevista de emprego… Rodei por Bangu, Sepetiba, Campo Grande, Inhoaíba, Santa Cruz, Paciência, Realengo, Guaratiba e Barra de Guaratiba, que eu me lembre.

E sempre na semana seguinte a um fds de curtição, ao encontrar o Rato Branco e outros amigos em Caxias (que não iam pra esses rolés por já estarem cascudos e não mais topavam certas aventuras e furadas ou tinham dinheiro para usufruir de equipamentos de cultura em zonas privilegiadas da cidade) eu contava minhas histórias e me achava “super importante” por estar indo pra Bangu! Lembro de alguém dizer “agora ela é garota zona oeste!“, e eu me encher que nem pavão! Que status, né?! Hahahaha  Hoje, mais madura, entendo que isso acontecia porque fora de Caxias e Baixada, só na Z.O., até aquele momento, eu tinha encontrado identificação. Sem contar que eu ia sozinha a muitos lugares e isso me fazia sentir esperta e forte. <3

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Foto da câmera de Daniela Barros. Da esquerda pra direita na frente: Chucky Ramyrez, eu. No meio: fotógrafos Alexis Zegarra, Daniela Barros. Atrás: fotógrafo e co-produtor do evento Euter Mangia, galera da Setor Bronx,  Bala n’ Agulha e pessoas que esqueci o nome porque tava já meio bêba como vc pode ver na foto. Depois adiciono conforme as pessoas forem reclamando. hahaha

Sábado, no Festival de Cultura, me senti atualizando meu carinho por Bangu e pela Z.O. vendo que apesar das dificuldades em fazer cultura de rua e na rua nessa cidade violenta, partida, ingrata e mal cuidada, existe poesia e resistência. Novas bandas, novos e antigos amigos (valeu Beto Metal, seu fela!), cerveja gelada, equipamentos de excelente qualidade (Chucky e eu ficamos surpresos por conseguir entender o que estavam cantando! Hahaha), pessoas tão diferentes curtindo no mesmo espaço até altas horas. Parabéns aos envolvidos!! Viva a resistência underground no Hell de Janeura!

 

PS.: *Gostaria de contar um pouco dessas peripécias na Z.O. que citei lá no asterisco, mas o texto ficaria muito extenso. Quem tiver interesse em saber, pergunta aí abaixo nos comentários, que eu conto. Quem tiver lembranças do RATO NO RIO, me conta também!


 

Diário Underground, histórias do underground Rock n Roll do Rio e Baixada Fluminense, todas as quartas aqui no blog da Oficina do Demo. Beijinhos paçoquísticos.

Ouça bandas independentes.  Vá aos shows.  Curta e compartilhe material das bandas na internet.

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Who’s that girl?

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Paçoca Psicodélica, vulgo Yasmin Ramyrez. Cigana-hippie-punk, libriana, filha de Oyá, feminista com ascendente em tretas, mãe de adolescente. Educadora, escrivinhadeira, “missionária” do coletor na Copinho da Revolução, aprendiz de cartomante, ex-doula, no underground desde 1996, co-criadora e produtora do Festival Hippie Punk Beatnik, vocalista e produtora da Ramyrez 77, produtora e apresentadora do podcast Bora Marcar?, colunista quinzenal em One Degrau, fábrica de ideias.