NO TALO #13

NO TALO #13

5 de julho de 2018 346 Por Eddie Asheton

JEFF BECK, ROD STEWART, FRUTAS E OUTROS BICHOS

Jeff Beck Group : Beck- Ola (1969)

Jeff Beck Group (1972)

https://www.youtube.com/watch?v=cbhbwBhXFSo

 

Hoje eu vou falar não sobre um, mas sobre dois discos clássicos do Jeff Beck Group. Mais especificamente os discos “Beck-ola” e “Jeff Beck Group” – mais conhecidos como o disco da maçã e o disco da laranja, respectivamente. Entre os dois discos, um intervalo de três anos, formações e direcionamento musical totalmente diferentes. Mas ambos igualmente geniais. É uma tarefa ingrata dizer qual dos dois discos ou qual formação é melhor. É, com perdão do trocadilho, como comparar maçãs a laranjas.

Jeff Beck Group, como o nome já diz, era a banda de ninguém menos que Jeff Beck. Depois de uns dois anos como guitarrista dos Yardbirds, Jeff caiu fora e gravou o disco “Truth”, que para muitos (inclusive este que vos fala) foi a matriz do que viria a ser o disco de estréia do Led Zeppelin, que sairia no começo do ano seguinte. Inclusive Jimmy Page e John Paul Jones (além de um ensandecido Keith Moon na bateria!) participam de “Beck’s Bolero”, uma das músicas do disco de Jeff Beck. Botando os dois discos pra ouvir, um seguido do outro, fica difícil defender Jimmy Page e companhia. Todos os elementos estão no disco do Jeff Beck, é só ligar os pontos. Mas, como o disco do Led Zeppelin teve uma produção mais pesada e eles tinham um empresário como o Peter Grant, deu no que deu. De qualquer forma: bonito, hein, Jimmy?

No mesmo ano da estréia do Led Zeppelin foi lançado o disco “Beck-ola”. Ou “Cosa Nostra Beck-ola”, como consta na contra capa, junto com o nome da banda. A capa tem escrito apena “Beck-ola”, além de uma reprodução do quadro “The Listening Room”, de René Magritte. A pintura consiste de uma maçã verde dentro de um quarto, de frente pra uma janela. Esse mesmo quadro foi a inspiração dos Beatles pra criar o famoso logotipo da Apple.

Seria “Beck-ola” o primeiro ou o segundo disco do Jeff Group? Na capa de “Truth”, de 1968, aparece como Jeff Beck, sem o Group. Porém a formação dos dois discos é a mesma, com excessão do baterista. E já desde antes do lançamento de “Truth” a banda já se apresentava como Jeff Beck Group. Por isso, apesar do que consta na capa de “Truth”, eu considero “Beck-ola” o segundo disco da banda. E imagino que muita gente boa deva considerar também.

Em 1967, pleno ano do Verão do Amor, Jeff Beck entrou no estúdio com uma turma de peso: Mick Waller na bateria, o rato de estúdio Nicky Hopkins nos teclados, e dois novatos que ainda dariam muito o que falar: Rod Stewart nos vocais e Ron Wood no baixo. Sim, isso mesmo, no baixo. E fez um belíssimo trabalho, diga-se de passagem. Muito melhor do que qualquer coisa que ele fez/ tem feito nos seus trezentos anos como dublê de guitarrista nos Rolling Stones. E assim gravaram “Truth”, que até que se saiu bem. O disco chegou ao 15° lugar da Billboard. Até ser ofuscado pelo furacão Led Zeppelin. Agora, só pra finalizar o assunto Ron Wood, e pra não acharem que tenho algo pessoal contra o cabeça de paliteiro: o guitarrista que fez tantas coisas maravilhosas com os Faces é o mesmo que logo depois entraria pros Stones? Não parece mesmo…

Mas o furacão Led Zeppelin não desanimou o Grupo. E voltaram pro estúdio, dessa vez com Tony Newman na bateria. Saíram de lá com uma verdadeira tijolada em forma de música. O que era dramático (no bom sentido) e quase apocalíptico em “Truth” agora soava mais relaxado e balançado, mas sem perder um grama de peso. A produção mais limpa de Mickie Most certamente também ajudou a deixar esse disco tão mais pra cima! O que ajudou inclusive a dar mais ênfase às pirações guitarrísticas do patrão. O disco já abre de forma magistral com uma música garimpada do repertório do caminhoneiro mais famoso do mundo, “All shook up”. E lá pras tantas tem também “Jailhouse Rock”. Fora essas destaco os pesos pesados de “Spanish Boots” e seu show de bateria, além de “the Hangman’s Knee”, onde o velho Rod usa com maestria aquela voz estragada que Deus lhe deu. E pra fechar, uma tremenda instrumental de respeito, “Rice Pudding”.

Mas no intervalo entre o disco da maçã e o disco da laranja Jeff Beck não ficou parado. Ainda em 1969 ele se encantou com a cozinha do recém desfeito Vanilla Fudge, o baterista Carmine Appice e o baixista Tim Bogert. Os três conversaram e já estava tudo acertado pra montarem um power trio, no qual os vocais seriam assumidos pelos dois americanos. Mas lá vem o destino e atrapalha os planos de nossos amigos: Jeff Beck sofre um terrível acidente e fica vários meses fora de combate. Para não ficarem parados Carmine e Tim montam uma outra bandaça, o Cactus. Quanto Jeff finalmente volta a tocar seus dois amigos americanos estão decolando com o Cactus, de forma que só lhe resta montar uma nova banda, que viria a se chamar …

O novo Jeff Beck Group trazia uma formação tão genial quanto a anterior: Max Middleton no pianão, Clive Chaman no baixo, Bob Tench com seu vozeirão rasgado, e nada mais, nada menos do que o monstro Cozy Powell na bateria! Grandes nomes que, juntos, fizeram dois grandes discos, cuja tônica era o melhor da Soul Music americana.

O segundo disco dessa formação levou o nome da banda, e ficou muito conhecido também como o disco da laranja. Já abre com “Ice Cream Cakes” e uma grande combinação de peso e elegância. Pular de “Beck-ola” pra “Jeff Beck Group” em um intervalo tão curto de tempo não é pra qualquer um, mas Jeff Beck é Jeff Beck é Jeff Beck! Pra não dizer que não há nenhuma conexão com o Jeff Beck Group antigo o disco traz “Glad All Over” e “Going Down”, que têm aquela pegada mais rockeira dos dois primeiros discos. E ainda realiza a proeza de transformar uma música do Bob Dylan em uma balada soul, na sua belíssima versão de “Tonight I’ll be staying here with you”. E fecha com a delicadeza instrumental de “Definitely Maybe”. Discaço! Vale por várias aulas de música! Amo Stevie Wonder, mas devo dizer que a versão de “I got to have a song” feita por Beck e seus comparsas bota a original no chinelo.

Mas se enganou quem achou que Jeff Beck finalmente havia sossegado.  Lembram-se daquele encontro do Jeff Beck com a cozinha do Vanilla Fudge / Cactus lá pelos idos de 1969? Pois então. Um ano após o lançamento do disco da laranja saiu o primeiro e único disco do power trio Beck, Bogert & Apice, mais voltado pro hard rock curto e grosso. Em seguida Jeff entrou de cabeça no fusion com “Blow by Blow” e daí pra frente não parou mais de exercer a sua imprevisibilidade, digamos assim. Mas sempre acertando na mosca!

Coisas de gênio…