NO TALO! #2

NO TALO! #2

19 de abril de 2018 867 Por Eddie Asheton

ANADOLU POP – ou “Os Turcos Elétricos dos anos 60 e 70” – parte 2

Tudo o que é bom…

Quando se fala de um gênero musical como, no nosso caso, do Anadolu Pop, é muito comum que haja divergências entre as fontes em relação a detalhes como entre que anos esse movimento esteve no seu auge. Algumas fontes indicam como auge do Anadolu Pop o período entre 1966 e 1975, como consta na capa da coletânea “Hava Narghile”, citada na primeira parte dessa matéria.

erkin-koray-ve-john-lennon_426466Claro, depois de 1975 o rock’n’roll não parou de ser tocado e escutado na Turquia, mas já não parecia ter mais a mesma criatividade, força e charme. Artistas como Erkin Koray, Cem Karaka e Baris Manço continuaram a gravar e fazer shows. O final dos anos 80 presenciou o surgimento de várias bandas de metal, como Mezarkabul (que significa “pentagrama”), Volvox e Dr. Skull. Nos anos seguintes foram realizados também grandes festivais como Masstival, Barisarock e Sonisphere Festival.

E assim segue o rock’n’roll nas terras turcas. Se bateu a curiosidade dá uma passada nos Googles e You Tubes da vida e digite “Anadolu Pop”, “Anatolian rock”, ou o nome de alguns dos artistas e bandas citados nesta matéria. Lá vocês vão encontrar eles e outros igualmente interessantes. E abaixo falamos um pouco mais sobre alguns dos principais artistas e bandas:

BARIS MANÇO (1943 -1999): Foi o músico mais bem sucedido da Turquia de todos os tempos, e uma das imagespersonalidades mais famosas do país. Ainda nos seus tempos de escola montou a sua primeira banda, após ver um show da banda de Erkin Koray. A banda se chamava Kafadarlar, algo como “os Amigos”.

Nos anos seguintes ele cantou e foi acompanhado por várias bandas, entre elas Harmoniler, Kaigisizlar e o Mogöllar. Em 1972 formou o Kurtalan Ekspres, banda que o acompanhou até a sua morte, de ataque cardíaco.

Uma curiosidade: “Baris” em português é “paz”, e o irmão mais velho de Baris se chama Savas, que significa “guerra”.

DISCO RECOMENDADO: Dünden Bugüne (1971)

ERKIN KORAY: É aclamado como o primeiro músico a fazer um show de rock’n’roll na Turquia, em 1957. Junto com a sua banda da época, quando ele tinha apenas 16 anos.Erkin_Koray-Elektronik_Turkuler-Album-1-

Após vários anos lançando compactos como artista solo ou junto com outras bandas, em 1973 ele lançou seu primeiro disco solo, que leva o seu nome. O disco inclui “Sana Birseyler Olmus”, versão em turco de “Land of 1000 dances”, de Chris Kenner, e que ficou famosa na versão de Wilson Pickett. O relançamento em CD traz como faixas bônus músicas de seus compactos, entre elas uma maravilhosa versão em turco de “Tuesday Afternoon”, do Moody Blues.

Apesar de todos esses anos Koray ainda exerce grande influência sobre muitos músicos turcos da atualidade, e ele continua lançando discos e empunhando a sua famosa Gibson SG Custom.

DISCO RECOMENDADO: Elektronik Turküler (1974)

MOGOLLAR: Considerada a mais famosa e importante banda do Anadolu Pop, começaram em 1967 e foram atécover_173152022018_r 1976. Depois de uma longa ausência de 17 anos voltaram à ativa, e continuam tocando até hoje. Nesse meio tempo tiveram várias formações.

Em 2007 a agência de publicidade TBWA usou uma das músicas do Mogollar, “Garip Çoban”, em comerciais do Playstation 3. No mesmo ano entra um novo integrante na banda: Emrah Karaka, filho do lendário Cem Karaka, como vocalista e guitarrista.

DISCO RECOMENDADO: Düm-Tek (1975)

BUNALIM : É bem provável que o Bunalim seja a banda turca que chegou mais perto da sonoridade pesada de um Black Sabbath ou de um Blue Cheer, principalmente na sua formação, um legítimo Power Trio.

A banda nunca lançou nenhum LP, apenas 6 compactos, durante o período em que ostentou o nome Bunalim (queFront era barra pesada até no nome, que significa “depressão” ou “frustração”), entre 1970 e 1972. Dentre esses compactos destaco um, de 1970, que tem ambos os lados bem pesados: “Tas Var Köpek Yok”, cujo lado B, “Yeter Artik Kadin”, é uma versão em turco da excelente “Get out of my life, Woman”, também presente no disco de estréia do Iron Butterfly.

Logo depois a banda mudou o nome para Ter e gravou um único compacto, ainda no ano de 1972, pesadíssimo, junto com Erkin Koray. Uma dessas músicas, “Hor Görme Garibi” (Deep Purple puro!), aparece na coletânea “Hava narghile”, e a outra, “Zuleiha”, entre as faixas bônus da reedição do disco de estréia de Erkin.

DISCO RECOMENDADO: Bunalim (2006) (coletânea com todo o material lançado pela banda)

R-1130441-1292320979.jpegSELDA BAGCAN: Não seria exagero dizer que Selda foi a Joan Baez do Anadolu Pop. Seu engajamento político fez com que ela fosse perseguida pelos líderes políticos turcos durante boa parte dos anos 80, década em que ela chegou a ser presa algumas vezes. Durante 20 anos a Televisão Estatal Turca (TRT) simplesmente a ignorou. Mas Selda, tal qual uma verdadeira guerreira do povo, nunca entregou os pontos. A cantora continua a gravar e se apresentar.

Dizer que Selda é uma mera cantora folk é muito pouco. O autor do texto presente no encarte da reedição do seu disco de estréia (“Selda”, de 1976) arrisca alguns rótulos para definir a sua música, e todos eles fazem sentido: era espacial, eletrônico, progressivo de protesto, psych-folk-funk-rock do Oriente Médio… e mais alguma coisa. Ouça e tire as suas próprias conclusões!

DISCO RECOMENDADO: Selda (1976)

CEM KARAKA (1945 – 2004): É também conhecido como “Cem Baba” (algo como “Pai Baba”), tamanha a sua importância no movimento do Anatolian Rock.

Como muitos dos seus contemporâneos turcos, Cem começou a carreira musical em bandas cover, até que em 1967 s-l500montou a sua primeira banda com músicas próprias e em turco, o Apaslar. Depois ele participou das bandas Mogollar, Kardaslar e Dervisan, além de atuar como artista solo.

O engajamento político, explícito em suas músicas, lhe rendeu uma bela dor de cabeça ao longo dos anos 70, quando os conflitos entre direita e esquerda na Turquia se agravaram, além da tensão criada por grupos separatistas. Por fim, em 1979 ele se mudou pra Alemanha Ocidental, por essas razões e também por motivos comerciais. O governo turco o convidou várias vezes a voltar para o país mas, inseguro sobre o que aconteceria caso voltasse, Cem Karaka recusou todas as ofertas. Isso fez com que o governo decidisse tirar a cidadania turca dele.

Somente em 1987 o Primeiro Ministro Turgut Özal deu a anistia a Cem Karaka, e imediatamente após essa concessão ele finalmente voltou ao país, e gravou e lançou um dos seus discos mais poderosos, “Merhaba Gençler ve Her zaman Genç Kalanlar “, que significa “Olá, Jovens, e Todos Que Sempre se Sentiram Jovens”.

DISCO RECOMENDADO: Cem Karaka (1974)

MURAT SES: Foi o criador do rótulo “Anadolu Pop”, e um dos pioneiros do estilo, ao misturar elementos do rock’n’roll ocidental com a música folclórica turca. Na época da criação desse rótulo ele era tecladista do Mogollar. Depois ele tocou em outras bandas, inclusive com Baris Manço e Cem Karaka, até que em 1979 ele se mudou para a Áustria, mas nunca parou de tocar e de gravar e lançar discos.maxresdefault

No início dos anos 90 ele criou um novo estilo, que ele rotulou como Electric Levantine, que na verdade é uma vertente mais experimental do seu “filho” mais velho, o Anadolu Pop.

DISCO RECOMENDADO: Automation (1990)

Eu também recomendo bastante o canal Anatolian Rock Revival Project, do You Tube! Lá vocês vão encontrar músicas desses e de muitos outros artistas e bandas. Vale muito a pena mesmo acessar:

Anatolian Rock Revival