NO TALO #9

NO TALO #9

7 de junho de 2018 974 Por Eddie Asheton

OS MONGES NÃO ACREDITAVAM EM NADA.

Monks – Black Monk Time (1966)

 

“Os Monks não acreditam em nada”. Assim está escrito na contracapa desse primeiro e único álbum dos Monks. Isso explica muita coisa quando você bota o disco pra tocar. Mas antes de falar da música vamos dizer como tudo começou.

A estória não começa em nenhum monastério, mosteiro ou coisa que o valha nos Estados Unidos, mas sim em uma base militar americana na Alemanha, onde Gary Burger (guitarra e vocais), Larry Clark (órgão e vocais), Dave Day (banjo e vocais), Eddie Shaw (baixo e vocais) e Roger Johnston (bateria e vocais) serviam, em 1964. Nesse mesmo ano eles montaram a banda The 5 Torquays. No ano seguinte, por sugestão dos produtores alemães Karl-Heinz Remy e Walther Niemann, mudam seu nome para Monks (Monges).

Até aí, nada demais. Nada muito diferente dos nomes das centenas de bandas de garagem que proliferavam nos Estados Unidos nessa época. O pulo do gato é que além do nome eles começaram a se apresentar vestidos de monges e adotaram o corte de cabelo dos monges, com o topo da cabeça raspado e tudo o mais. Se isso parece meio esquisito hoje, imagina em sessenta e cinco!

E não era só o visual que causava estranheza, mas também o som. Muitas bandas de garagem americanas da época, por falta de técnica ou por causa da explosão hormonal da adolescência, acabaram soando mais cruas e agressivas do que as suas principais influências: Beatles, Stones e as demais bandas da chamada Invasão Britânica. Os Monks deram um passo além e levaram a coisa ao limite do minimalismo. Somado a uma batida muito reta, repetitiva, marcial. Provavelmente um reflexo do ambiente militar em que a banda se encontrava nos seus primeiros dias.

01monkspromo

Esquisito demais pros Estados Unidos, mas talvez nem tanto pra Alemanha. Tanto que foi lá que Black Monk Time foi gravado e lançado, pelo selo International Polydor Production. A capa toda preta, com apenas o nome da banda, do disco e o selo da Polydor, era mais um indício de que não era mais um mero lançamento de uma banda qualquer. E assim que se bota o disco na vitrola você é atacado pela batida violenta e repetitiva de Monk Time, falando sobre morte no Vietnã e outras amenidades. E o disco segue com pérolas como I Hate You e Higgle-Dy, Piggle-Dy , além de outras músicas com nomes curiosos, como Boys are Boys and Girls are Choice e Drunken Maria.

Não é exagero dizer que Complication, principalmente o seu riff inicial, tem um que de AC/DC, apesar de ter sido gravada quase uma década antes do surgimento do quinteto australiano. Em vários momentos eles realmente soam bem à frente do seu tempo, apesar de provavelmente eles terem tentado o contrário ao simplificar ao máximo as batidas e as melodias de suas músicas. Muitos chegam a considera-los uma das bandas precursoras do punk. Até que faz sentido, sob um ponto de vista extra-musical. Dá pra ver e ouvir ecos dos Monks também em bandas que vieram ou estouraram pouco depois do punk. Um exemplo que vem logo à cabeça é o Devo com o seu conceito de de-evolução. Existe algum parentesco entre “Whip it” e “Oh, How to Do Now”? Ouçam e tirem as suas próprias conclusões.

Infelizmente toda essa baderna durou muito pouco e no ano seguinte a banda já não existia mais. O único registro da banda nesse período, além dos trinta minutos de Black Monk Time, foi o compacto Love can Tame the Wild / He Went Down to The Sea . Disquinho legal, mas o que vemos aqui são monges mais comedidos, bem diferentes da selvageria niilista do LP. Provavelmente uma tentativa de suavizar o som em busca do sucesso. Infelizmente não deu certo. Mas também não manchou sua reputação, nem impediu que se criasse todo um culto em torno da banda décadas depois do encerramento de suas atividades. Canonização?

Na época tanto o LP Black Monk Time quanto os compactos da banda só foram lançados na Alemanha. Nada de discos lançados no país natal dos músicos, e também não há nenhum registro de apresentações por lá nessa época. Mas no You Tube é possível achar a banda tocando nos programas Beat Beat Beat e Beat Club, da TV alemã. É engraçado ver nesses vídeos a garotada da época meio perdida, tentando dançar ao estranho compasso dos Monks.

E assim a história dos Monks termina, como a história de milhares de outas ótimas bandas que vemos e ouvimos por aí. Nenhum dos cinco músicos formou ou tocou em nenhuma banda famosa. Alguns deles morreram, outros ainda não, mas o importante é que ficou o registro: esse disco maravilhoso, de uma simplicidade hipnótica. E isso não é pouco!